CARTA A UM CANDIDATO AO SACERDÓCIO

Iniciamos as postagens neste blog com a linda carta de Pe. Arturo Paoli, da Fraternidade de Charles de Foucault escrita em dezembro de 1986, ao ainda jovem, aspirante ao Prebiterado Cyzo Assis Lima. Vale a pena meditar cada frase e o seu sentido. 

Pe. Arturo Paoli e Pe. Cyzo Assis Lima,fpm em Lucca - Itália - em 2010.
Pe. Arturo ouve atento as explicações sobre as insignias da Fraternidade.

"Você é um jovem de 28 anos, convertido, estudando para ser padre, e, estando para assumir o compromisso do celibato, manifesta as suas duvidas a um padre idoso que tem 50 anos de sacerdócio. Não tenho intenção de dar-lhe conselhos, porque a vida de cada um é única. Entrego-lhe apenas alguns pensamentos, frutos da minha própria experiência.

O grande perigo dos que estão no período de formação é de fazer do sacerdócio uma profissão separada do seu ser. Sua opção fundamental não deveria ser a de preparar-se como ministro da Igreja, responsável por muitas iniciativas, que se resumem na tarefa pastoral, MAS A DE SER UM SEGUIDOR DE CRISTO QUE VIVE A HISTÓRIA DE UMA AMIZADE MUITO SÉRIA E LEAL COM ELE. Se você lê com atenção o Evangelho, descobre que Jesus não fala claro no primeiro momento do trabalho que quer confiar aos seus discípulos, só exige deles UMA ENTREGA TOTAL – “Vem e segue-me” – sem perguntar nem aonde nem por que. Se em toda a sua vida você tem presente este ponto de partida, você pode realizar uma vida que esteja em progresso permanente. Se você faz de sua atividade pastoral o único sentido de sua vida , pouco a pouco descobrir-se-á empregado de supermercado e condenado a uma frustração inevitável. Na minha experiência posso afirmar-lhe que encontrei sacerdotes frustrados em busca continua de compensações: carro último modelo, cada luxuosa, todas as comodidades da vida burguesa. Isto me parece mais horrível do que qualquer doença. Procure desde agora salvar-se desse epilogo triste, jogando-se com todo o seu ser na busca da AMIZADE COM CRISTO.

Nunca entendi a distinção que fazem entre vida contemplativa e vida ativa, porque a vida contemplativa significa identificar-se com Cristo. Se você em sua vida, em meio as distrações, às ocupações e às tentações, procura ser fiel a esta amizade, você conseguirá ser um contemplativo na ação. E esta sua condição transparecerá em sua pessoa. Em lugar de crescer na busca das riquezas e das comodidades crescerá no desejo de ser pobre e solidário. Lamento que tenhamos que declarar opção pelos pobres, porque se fossemos autenticamente amigos de Cristo, seriamos necessariamente solidários e identificados com eles. Sua atividade pastoral será dirigida aos pobres e às comunidades de base: não por imposição externa, mas para ser fiel ao projeto de Cristo. Se um Cristão escolheu verdadeiramente Cristo, então tem o gosto da pobreza e dos pobres. Tudo isso não posso ensinar-lhe, nem eu nem outros, o aprenderá pelo mesmo Cristo se você for fiel em manter diálogos diretos com Ele. Seja homem de oração, busca fielmente, obstinadamente, a intimidade com seu Amigo e você sentir-se-á sempre bem em todas as etapas da vida. Isto é o que lhe deseja seu amigo Arturo Paoli".